Outplacement Humanizado: Case Bruno Corrêa
Em março deste ano, recebi um convite muito especial de Renata Bonora, cliente de longa data. Sua empresa, a K21, havia desligado um colaborador, mas gostaria de apoiá-lo na próxima etapa de sua carreira.
Sempre abraço com especial paixão projetos onde organizações buscam humanizar os processos demissionais. Recentemente eu havia cocriado um projeto bastante potente de Demissão Humanizada com a visionária Luciana Medeiros para a Grey Advertising. Agora era a vez de adaptar meu programa de reorientação de carreira para uma versão mais humanizada e customizada de programa de outplacement.
E neste caso, o projeto era particularmente coerente com meu propósito: Bruno Correa é um homem negro, pai de um bebê, fazendo uma ousada transição da área de segurança privada para o mundo agilista. Um desafio que envolvia diversas camadas: Humanização do Trabalho, Inclusão e Expressão de Autenticidade.
Nossa parceria foi ancorada nas três questões norteadoras da minha caminhada desde que eu mesma escolhi reinventar-me:
- Humanização do trabalho: programas de demissão humanizada são raros e, no entanto, críticos para garantir transições pessoais menos sofridas diante da ruptura de um vínculo empregador-empregado.
- Alinhamento Pessoa Física e Pessoa Jurídica: quando talentos, valores e sonhos se alinham ao desempenho profissional, as organizações ganham profissionais mais engajados e os indivíduos constroem um legado mais potente.
- Inclusão e diversidade: prosperar no mundo corporativo é especialmente penoso para minorias. Fatores intrapessoais como síndrome de impostor, pouco repertório e gaps educacionais se somam a uma dificuldade normativa de compreender e incluir pessoas com históricos diversos de educação e contexto cultural, além da sombra do racismo estrutural.
No meu trabalho de mais de dez anos com reorientação de carreira, aprendi que o autoconhecimento é um pilar fundamental de recolocação. Apropriar-se de sua identidade, reconhecer os talentos e limitações e, principalmente, saber o que se deseja da próxima etapa profissional são fundamentos necessários para uma trajetória de sucesso e realização pessoal.
As etapas comuns de meus projetos para pessoas em transição de carreira costumam envolver três momentos:
- Mapeamento de talentos, habilidades e experiências: usando ferramentas como a linha do tempo da carreira, questionários como o de Forças de Caráter da Psicologia Positiva e atividades do livro “Como Encontrar o Trabalho de sua Vida “ de Roman Krznaric, facilito colheitas a partir de um olhar apreciativo sobre a trajetória profissional. O resultado esperado é que o cliente reconheça e se aproprie de suas forças, assim como se dê conta das lacunas e dificuldades a serem endereçadas.
- Escolha do caminho a seguir: usando técnicas projetivas como colagem e perguntas provocativas, o cliente constrói sua visão de futuro para o trabalho, delimitando as áreas em que deseja atuar, se seguirá o modelo empreendedor ou não, que tipo de organizações tem congruência com seus anseios e valores.
- Definição de estratégias: as etapas anteriores fornecem subsídios para o desenho de um plano de ação específico, que comumente inclui redesenho do currículo e perfil do LinkedIn, assim como próximos passos de networking e aprimoramento a partir de cursos e vivências.
No caso de Bruno, alguns pontos foram chave:
- Olhar com orgulho para suas experiências prévias antes da transição para a “Era do Conhecimento”. Bruno trabalha desde os 14 anos e como muitos jovens negros, começou no trabalho informal e em funções menos valorizadas pela sociedade. Felizmente desafiou as estatísticas, persistiu nos estudos até completar um curso técnico e uma faculdade. A partir daí, seus trabalhos na área de segurança patrocinaram o aprendizado de métodos ágeis, product manager e outros saberes ligados ao mundo onde ele deseja se inserir.
- Quando iniciamos o trabalho, Bruno sequer listava sua experiência prévia de quase vinte anos. Juntos, reunimos as competências socioemocionais que ele já havia conquistado na suas interações com o público e na sua experiência bem-sucedida de empreender num negócio de acessórios temáticos. Bruno encontrou um espaço para honrar o que havia feito antes e o constituiu como profissional.
- Olhar com coragem para as oportunidades de desenvolvimento e as limitações atuais:
Em uma de nossas primeiras conversas, percebi que Bruno não sabia explicar as causas de seu desligamento. A partir de uma entrevista com K21, pudemos traçar um diagnóstico que pudesse apoiar a construção de sua narrativa em entrevistas para futuros empregos e, principalmente, ações de autodesenvolvimento para evoluir como profissional. Bruno e eu tivemos uma conversa franca sobre quais características comportamentais mereciam atenção e como equilibrar o volume de informação apreendida com a prática relativamente incipiente de seus novos conhecimentos.
Além destas duas etapas fundamentais, Bruno foi encorajado a conversar com outros homens negros, para que, em paralelo, ele pudesse ter suporte para enfrentar os demônios que são um obstáculo extra: baixa autoestima e clareza dos desafios presentes no contexto de padrões heteronormativos e brancos prevalentes nas corporações.
Como resultado, Bruno decidiu se posicionar como um “Aprendiz em Product Manager” e também incorporar a recente paixão por Business Intelligence em seus objetivos. Ele vem praticando na sua atuação na Comunidade de Produtos Pretos e na sua própria banda, OÍDE. Está estudando opções de voluntariado e fazendo seus próprios experimentos, integrando a musculatura desenvolvida como empreendedor, ativista de sua Comunidade e entusiasta do mundo agilista.
Eu me encantei com a resiliência, disponibilidade para aprendizado e garra de Bruno. Queria terminar este texto com um convite para que você o conheça também e, quem sabe, ofereça uma oportunidade de inclusão para um profissional criativo, dedicado e faminto por novos desafios.
Se quiser conhecer melhor este talento e contribuir para um mundo corporativo mais inclusivo e diverso, marque uma conversa com ele: @brunocorrea.