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Com querer

Publicado por Leticia Carneiro em 17/08/2021 | Nenhum Comentário

Muitas vezes acreditamos que o universo está conspirando contra. É um chefe difícil, um acidente, um atraso por conta do engarrafamento. Uma pandemia… Em resumo, Uma vida diferente da que sonhamos. Da vida que presumimos.
A boa notícia? O universo não conspira contra.
A má? Nós conspiramos contra, quando não entendemos o poder do livre-arbítrio.

Claro que ninguém escolhe quando um passarinho suja a sua roupa… Mas é possível decidir o que fazer com as adversidades.
Por isso, considero muito importantes dois tipos de escolha:
1) O que eu escolho para a minha vida dar certo
2) O que eu escolho quando o pior acontece

Como isto funciona para mim?

No trabalho
Tive alguns chefes muito difíceis. Pessoas detestadas por todos, agressivas, rudes, por vezes cruéis. E com todos aprendi. Aprendi a enfrentar pessoas de um nível acima do meu. Aprendi a negociar com eles. Aprendi o valor do trabalho bem feito. E, principalmente, aprendi que chefes vão e vêm. Se soubermos administrar com inteligência o convívio, sobreviveremos.
Se o chefe é ruim, você tem diversas escolhas. Abaixo, assinalo apenas algumas:
1) Mudar de emprego (ou de carreira)
2) Ajudar seu chefe a ser promovido
3) Trabalhar duro para buscar uma oportunidade com outro chefe.
4) Esperar pacientemente o chefe sair
Também é uma escolha se vitimizar, reclamar o tempo todo e ficar paralisado. Pessoalmente, considero uma má opção, já que você estará perdendo a chance de crescer como pessoa e profissional. São no entanto respostas esperadas de todos nós, portadores de um cérebro primitivo que responde a ameaças com os recursos de fugir, paralisar ou confrontar.

Na vida pessoal
É comum a pessoa “que ninguém entende”, “que ninguém ajuda”, “que ninguém respeita”.
O que é improvável, para não dizer impossível é que esta pessoa não esteja fazendo algo para reforçar esta situação.
Acredito (e pratico) que se fizermos o básico das relações humanas, não seremos maltratados pela maioria das pessoas. Por alguns, talvez.

De toda forma, aprendi com meus estudos de Comunicação Não-Violenta que somos responsáveis por nossos sentimentos. O que foi gatilho não justifica como iremos responder. Isto não significa aceitar tudo e contemporizar. Significa olhar para si, compreender qual é o meu desafio pessoal nesta situação e agir para enriquecer a minha vida atendendo minhas necessidades. E quando possível, a da outra pessoa também.  Mais sobre CNV no futuro, mas quem quiser se aprofundar, pode buscar estas duas referências aqui, com meus  mestres: Pamela Seligman da Casa Firmamento e Sergio Harari.

Temos sempre a opção de responder conscientemente como lidar com este outro, inclusive usando o recurso de se afastar, delimitar fronteiras, etc.  O que não é possível é mudar o outro.

Quando a vida nos atropela
Já diz o ditado em inglês, meio chulo: “shit happens”. Acontece de baterem no seu carro parado, de você ser assaltado, de alguém querido ficar doente ou mesmo morrer.
Neste caso, concordo que não há prevenção 100% (embora na maioria dos exemplos que citei, haja precauções para minimizar os riscos).
Mas se aconteceu, a pergunta é: afundo ou não afundo na frustração, tristeza e raiva?
Perdi minha avó Regina e meu avô Celso com apenas quarenta dias de diferença, em 1994. Em 2017 meu pai morreu. E a perda mais dura foi em 2020: meu irmão Caio, com apenas 30 anos.

Não há justiça, beleza ou reparação possível diante do luto por pessoas que amamos. Ao mesmo tempo, há muitos recursos para gradualmente e gentilmente dar sentido e seguir em frente (sem jamais superar).
Minha fé e meus valores foram cruciais para eu viver meus lutos até a morte do meu pai. Com a passagem de Caio, precisei reforçar minhas ferramentas para lidar com tanta dor e fui estudar sobre luto e morte na Fundação Elizabeth Kubler-Ross Brasil, além de me cercar de cuidados terapêuticos e pessoas da minha rede de apoio. Não posso mudar a tragédia da morte de quem eu amo, mas posso influenciar como lidar daqui em diante.

Tudo isso me ajuda a conviver com minha tristeza. E são coisas que dependiam só de mim e do que havia criado ao longo de minha vida.
Hoje, quando acontecem coisas ruins, busco sempre a lição. Posso ficar brava, mas este sentimento em geral é seguido de uma pergunta: “o que eu faço com isto?”. E aí a frustração é menor, por que estamos agindo, mesmo como reação a um fato que não controlamos.
Finalmente, eu cada vez amo mais errar. “Make excellent mistakes”, aprendi no livro “The Adventures of Johnny Bunko” de Daniel Pink, sobre como mudar o rumo da sua carreira (em formato de mangá, imperdível!).

Erros excelentes são os que nos impedem de praticar erros ainda maiores. Pode ser um acidente (ou quase), um bobagem ao empreender, um deslize no casamento ou namoro, uma hora de fraqueza na maternidade.

O importante é olhar o resultado e entender o que pode ser depreendido como lição. Claro, há um tempo para cada um destes passos e requer muita auto-compaixão, para não fazer do processo de responder um sofrimento de culpa e auto-exigência.
Viver uma vida autêntica requer protagonismo e autorresponsabilização. Colocando-me como responsável pela minha vida, aprendi a perdoar mais e conquistei o meu sonho de ser livre para experimentar o meu caminho.
Não é fácil. Mas está nas minhas mãos e não troco por nada. E você? Vamos viver “com querer”?

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